Pisou-me o pé
Pisou-me o pé.
Olhei-o furioso.
E ele olhou-me aborrecido.
E depois, Senhor, pus-me a pensar que não terá sido por acaso que nos
encontrámos no limiar da nossa porta.
Já que ele bateu, faço questão de abrir com um sorriso.
Eu sorri.
Ele sorriu.
E com um aperto de mãos nos separámos.
Obrigado, Senhor, por havê-lo encontrado.
Michel Quoist
Metropolitano
Psscht... clac...
Fechou-se a porta.
Na massa humana apinhada na plataforma, facas mecânicas cortaram o
bastante para fazer "uma fatia de metropolitano".
Vai partir.
Nem me posso mexer.
Já não sou indivíduo - sou massa.
Massa que se desloca em bloco, como geleia em lata grande demais.
Massa anónima, indiferente e até, quem sabe?, longe de Ti, Senhor.
Formo com ela uma coisa só e compreendo que por vezes seja dura
para mim a escalada.
Esta multidão é pesada, sola de chumbo em meus pés, já tão lentos,
passageiros em excesso dentro da minha barquinha atulhada.
E no entanto, Senhor, eu não tenho o direito de ignorar esta gente
-são meus irmãos-.
Não posso salvar-me sozinho.
Senhor, já que assim o queres, vou salvar-me "de metropolitano".
Michel Quoist